sábado, 21 de agosto de 2010

A diferença entre querer e querer muito.... Relato da prova do Adventure Camp de Santa Rita do Passa Quatro, 9 de abril, 2007

Correr aventura sempre foi algo que me encheu de prazer, mesmo com os perrengues que a gente passa pensar que algo poderia me tirar da prova só aconteceu uma vez, mas na última prova em alguns momentos a minha cabeça tentou me tirar da prova, mas um pensamento do Fabian me fez continuar, e encontrar força... A diferença entre fazer alguma coisa ou não conseguir, está no sentimento de querer... Quando vc quer alguma coisa, vc pode não conseguir agora quando vc quer muito alguma coisa, aí... pode ter certeza que vc consegue...
Pois é Fá, na saída daquele remo, quando vc me abraçou eu juro que pensei... Você quer terminar essa prova ou vc quer muito... e aí, enxuguei os olhos e pensei.....
EU QUERO MUITO.....
Na verdade terminar essa prova era uma questão de honra, as dificuldades permearam não só o percurso, mas toda a preparação, começamos tentando o patrocínio para as roupas que não veio em tempo, depois a segunda tanden, que acabamos por não conseguir, e mesmo decidindo comprar outra em uma “vaquinha”, não houve tempo hábil para finalizá-la...
Aliás, quem quiser ajudar, a gente aceita qualquer quantia para inteirar a bichinha...
Saímos de São Paulo por volta do meio dia, pegamos a estrada e no caminho ao pararmos em um posto nos apaixonamos pelo Terrôncio, um Tigre de Bengalas de pelúcia que passou a ser nosso mascote, foi carregado toda a prova, e também completou .
Chegamos no sábado à tarde, fizemos o check dos equipamentos, e aguardamos a chegada do mapa. Neste meio tempo pegamos as bikes e as levamos ao PC 6. A bike fez o maior sucesso, ganhou até foto do pessoal do staff do PC.
Depois disto voltamos à sede do Camp. 18:30 o mapa saiu, e plotamos todos os pcs até a hora do briefing, e acompanhamos as explicações com o mapa na mão... Um grande avanço visto que isto é normalmente quase impossível.
Saímos e fomos a uma pizzaria, porque tava todo mundo morto de fome. Enquanto a pizza não vinha fomos estudando o mapa, e azimutando as direções dos pcs. Bom para vcs terem uma idéia a pizza demorou tanto que a gente conseguiu terminar tudo, e ainda conversar com os meninos sobre bússola braille, e como o Cris ajudaria a controlar os azimutes no dia seguinte...
Menino guerreiro este ...
Depois desta longa espera fomos para o hotel, e arrumamos todas as mochilas... Montamos os kits de alimentação, os equipamentos obrigatórios, água, gatorade... e tudo o que precisaríamos no dia seguinte, para poder acordar o quanto antes...
Os meninos estavam super motivados, e eu morrendo de medo da navegação...mas como ninguém nunca ouviu falar dos covardes... Vamos em frente..
Largamos no meio da muvuca foi demais... Uma emoção... corremos e seguimos junto com a galera para o PC1.. Chegamos lá em 35º, uma vitória, já que o trekking é uma das partes mais difíceis quando se é deficiente visual... AH... esqueci de dizer.,.. que esta corrida era tão importante porque seria a primeira que o Terra completaria todos os PCS... Dois videntes e dois deficientes visuais. Na última prova do ano passado, tivemos que pular a parte de remo, porque um dos nossos passou mal.
Pois é... O Fabian, eu, o Cris e o Ricardo, queríamos MUITO, isso.. e estávamos dispostos a trabalhar duro para que acontecesse...
Fizemos os demais PCs o mais rápido possível apesar do trajeto entre o 2 e o 3 ser bem complicado, porque os tropeções eram inevitáveis...
Estes momentos são difíceis porque ao tropeçar os meninos puxam a gente para traz e precisamos fazer muita força ... O Ricardo passou o maior perrengue porque pisou em um tronco e caiu gritando: Estou caindo no abismo... e puxando o Fá pra trás... e o Fá segurando e dizendo: Cara e só um tronco, meu... calma, calma.
Mas neste momento ficamos imaginando que realmente deve ser difícil não saber o que acontece ao seu redor, e confiar de todo o coração... que aquela pessoa á sua frente vai segurar as pontas, e vai saber onde pisa.
O próximo PC era o de remo, e teríamos que nos separar, acabei pedindo a primeira parte do remo porque estava mais acostumada a remar, e achei que ia ser tranqüilo, porque o rio tinha correnteza e isso ajuda, enquanto o Fá e o Ricardo iriam fazer a perna de trekking.
Ledo engano... O Rio era super forte, com lugares super rasos onde tínhamos que aportar, descer do barco carrega-lo, e voltar para a água. Logo depois deste trecho entramos em outro cheio de curvas, onde a correnteza forte e o remo do Cris, que rodava na mão dele, fazendo a pá entrar de lado na água, não deixavam que o barco tivesse controle para que eu pudesse corrigir o rumo e pelo menos para não bater nas curvas que estavam cheias de “unhas de gato”(espinhos) e de bambus.
Não havia meio de controlar a rota, e entramos várias vezes naqueles arbustos. Ficamos presos em uma dessas árvores de espinho, onde os mesmos puxavam a nossa pele como um pequeno anzol a medida que a água arrastava o barco, tentei soltar o Cris, mas os espinhos grudaram em mim também, então fui soltando e colocando o remo na frente para conseguir livra-lo, um desespero, mas saímos e continuamos naquele mesmo perrengue... A galera passando e a gente naquele desespero, o remo girando, o barco sem força e eu já não agüentava mais fazer força e o barco segui na direção dos espinhos.
Comecei a entrar em desespero, porque o tempo todo alguma coisa acertava o barco, ou o Cris, e a mim, e eu não conseguia controlar o barco.
Comecei a pensar que não dava pra continuar daquele jeito, eu tinha que dar outro jeito, de remar sozinha, talvez... Tentei, mas o barco tava furado, e pesava demais...
Aí o Cris falou, calma Mo, a gente vai conseguir...
E naquele momento decidi confiar nele, como ele confiava em mim, aí eu disse... cara, rema forte, e vamos embora... aí passou um cara dizendo que faltava super pouco, que a gente tava indo bem, e que tinha que fazer uma pequena aportagem à frente, e que depois 50 metros adiante estaria o PC. Respirei e seguimos.
Fizemos a aportagem, mas neste processo perdemos um remo... Que jóia, hein...
Fomos então os mais de 50 metros finais com um único remo...
Desci do barco exausta, com os olhos cheios de lágrimas... Foi quando o Fá pegou o barco, ajudou o Cris a subir, me ajudou a subir e me deu um abraço forte dizendo que estava preocupado.
Ele olhou pra mim, e perguntou o que tinha acontecido...
Eu disse que tinha sido difícil...
Ele falou que todo mundo reclamou, que estava difícil pra todo mundo.
Meus olhos continuavam cheios de lágrimas, e ele me falou assim:
Mô, se não der, ok, não deu... sem problemas.,.. quero que vc fique bem...
Nesta hora eu lembrei do que ele me disse um dia, e de um relato do meio Iron que ele fez no ano passado... e pensei: Eu quero terminar essa prova, ou eu quero muito....
Olhei pra ele, olhei para o Cris comendo rápido para continuar e pensei...
EU QUERO MUITOOOOOO.....
Olhei pra ele sério e disse que ia seguir e que tava tudo bem...
Entramos em um percurso de trekking que estava tranqüilo, navegamos pelo azimute, e chegamos rapidinho ao PC, que estava escondido.
Voltamos para o PC 8 e os meninos tinham acabado de chegar do percurso de remo.
Pegamos as Bikes e fomos para os derradeiros 4 Pcs finais. Como não tínhamos conseguido duas tandens o Ricardo seguiu para o PC 13 na cidade para que pudéssemos chegar os juntos.
Fabian, Cris e eu pedalamos loucamente, pelas estradas, e seguimos em direção à torre, um percurso com desnível de mais de 300m. Nesta hora eu já não tinha mais água, e estava sofrendo muito. O Cris me deu um pouco de água, e o Fá me passou o Camel dele, mas não era suficiente.
Aí ele pediu para ver no mapa se havia alguma casa por perto, eu disse que sim, e ele seguiu de bike até uma casa onde encontrou o Carlinhos e a Severina, que foram super atenciosos e encheram nossos camels e garrafinhas, que ele pegou correndo e trouxe para nós. Um super companheiro de equipe, um atleta com espírito de grupo... Amo vc, viu!!!!
Aí veio a piramba e os meninos na Tandem mandaram muito bem, despencaram com tudo e fizeram aquela ladeira rapidinho, foi lindo de ver.
Daí em diante, pedalamos muito em direção ao deserto do Alemão. Nesta hora eu me perdi na navegação, pegamos uma paralela e acabamos errando uns 20 minutos. Logo encontramos o erro junto com uma outra equipe e seguimos em direção ao PC 11.
Lá fomos informados que o vertical não seria mais realizado, e que seguiríamos em direção o PC 13 onde pegaríamos o Ricardo e os alimentos e chegaríamos na praça Zequinha de Abreu onde estava o pórtico, e de onde largamos.
Nessa hora, confesso que veio um gás, e fomos como loucos para a chegada, essa era a última partezinha da navegação e estava demais... pegamos o Ricardo, os alimentos e seguimos os quatro em direção à chegada.;.
Foi lindo... Uma emoção enorme...
Que com certeza só aconteceu, meus queridos,... PORQUE NOS QUATRO QUISEMOS MUITOOOOOOO.....
Obrigada Panelli e Isa, pela força na preparação.
Obrigada Cris, querida pelos treinos e carinho principalmente com os meninos
Obrigada Su, pelo cuidado, pelo carinho e pelos treinos também.
A todos que nos ajudaram, Serginho (Ciclovece), Renato (caminhonete), Maurício (aranhas, power gel, por pular da cama e levar tudo na USP). Amigos, que torceram com tanto amor... Dani, sempre mega preocupada. Beh, sempre na retaguarda, e todos do Grupo Terra e amigos pessoais da equipe, vocês são demais.
Carlinhos e Severina, pode ser que a gente não os veja mais, porém vcs foram muito importantes nesta nossa conquista, obrigada e que Deus os ilumine, estarão nas nossas orações.
Obrigada meus três fofos, Fabian, Cris e Ricardo pela dedicação, pela força e Parabéns por essa conquista...

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